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  • Foto do escritorDaniel Olivetto

Onde começa o começo?

Atualizado: 5 de mar. de 2020

22h, chove fininho lá fora. Caderno em branco. Por onde começar? Sempre aquela mesma pergunta.



Não sou muito fã de trocadilhos, mas em algum momento lá em dezembro do ano passado (ou em janeiro desse ano), quando estava escrevendo o projeto, dei a ele este nome, “Ações para Reexistir”, quando na verdade eu queria chamá-lo de “Ações para Resistir". Mas eu temia pelos modos de produção e captação de recursos, etc, e achava complicado usar um nome como esse em um Brasil conservador como o de 1964, digo, 2019. Nesse período entre anos (e desgovernos), entre janeiro e dezembro, andava meio melancólico com o que viria pela frente. Não que eu esteja muito mais animado agora, mas, digamos que pelo menos me sinto mais encorajado.


O curioso é que estas são duas palavras com uma fonética bem semelhante, Reexistir e Resistir, especialmente pra mim, porque tenho um problema de dicção que implica em certa dificuldade com o ‘s’ e o ‘z’ - minha língua é estreita, uma coisa assim. Reexistir e Resistir parecem a mesma palavra, mas não apenas para os que tem problemas de dicção. Viraram quase sinônimos, verbos que se complementam nesse momento obscuro, trocadilhos que se tornam expressões poéticas.


Não sei porque eu comecei por aqui. De vez em quando eu fico olhando para os meus cadernos de processo e me perguntando pra quem eu escrevo. Para quem escrevemos um diário? Não deve ser apenas pra mim, pois (não parece) estou super me esforçando para a letra ficar legível e o meu ombro está doendo.


Lembrei porque comecei a escrever por aqui, digo, porque falar do trocadilho “Reexistir / Resistir”. Desde a escrita do projeto e os trâmites de captação, já aconteceram mil coisas. Um delas foi encontrar o o trabalho de um artista visual chamado Marcelo Cidade. Em uma de suas obras, “resistir = (re)existir” ¹ (2005), ele preencheu 2 mil folhas de sulfite com essa expressão “resistir = (re)existir”, repetidamente, e empilhou as folhas no topo de um edifício para que o vento distribuísse as páginas pela cidade.



Toda vez que um processo de criação começa, a sala é como uma página em branco a ser preenchida (outras podem ficar vazias, em pausa), como esse caderno vazio que agora já tem umas 8 páginas de uma letra sofrida e um ou outro desenho.


Daqui 11 dias começaremos o processo na prática. Neste momento escrevo para tentar concretizar algo no papel sobre essa pesquisa, não sei se pelo desespero de saber que em 11 dias a sala em branco nos espera. Uma bobagem, ou apenas aquela ansiedade de sempre. O processo já começou quando ganhou esse nome, essas pessoas e suas respostas afirmativas e encorajadoras. Fiz algumas playlists de músicas no spotify com canções que me inspiravam a pensar no projeto. Ouvia antes de dormir ou fumando um cigarrinho e tomando vinho no terraço dos fundos. Um pequeno processo-criativo-etílico-tabagista-insone-musical para esperar a prática começar. Embalado por essas músicas escrevi uma lista de ideias, simples e loucas, que iam passando pela cabeça, uma coisa que chamei de “Lista de Ações para Reexistir”, uma coisa meio “100 coisas para você fazer antes de morrer”, mas só consegui registrar 30. Um exercício de imaginação e ansiedade.


PS: A lista está registrada no caderno, mas não veio a público neste post por temer algum spoiler.

1. “A convite do artista Daniel Lima, Cidade participou de uma das intervenções artísticas que buscava dar existência midiática — e, portanto, peso político — à ocupação Prestes Maia. (...) A quantidade de folhas fazia referência ao número de moradores da ocupação, evocando ao mesmo tempo a divisa incontornável sob a qual se desenrolaria a vida daquelas pessoas e o peso da relação entre indivíduo e grupo em um contexto de disputa social.”

Disponível em: http://site.videobrasil.org.br/news/2198372



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